É cada vez mais comum vermos histórias de
carros antigos encontrados em celeiros, galpões ou coisa do tipo após anos de
abandono. Nem sempre estão íntegros, quase sempre estão cobertos por uma grossa
camada de poeira e sempre embalam nossa imaginação. Aqui está selecionada
quatro histórias incríveis de carros antigos encontrados Brasil afora.
O Impala de Ituiutaba. O mais famoso deles talvez seja o Impala de Ituiutaba, cidade na
divisa de Minas Gerais com Goiás. O carro foi encontrado em 2010 depois de
passar mais de 40 anos parado em uma garagem. A história tem duas versões. A
primeira, é que nos anos 1960 um homem comprou um Impala para impressionar uma
garota por quem tinha uma queda — um crush, como dizem hoje. A
garota, contudo, não ligou muito e, decepcionado, o tal homem teria trancado o
carro em uma garagem desde então. Segundo o jornal O Globo, que apurou a história, o carro foi comprado em 1964 por um comerciante chamado Hélio Alves Guimarães.
Falando com sua filha, que não quis ter seu nome revelado, a verdade
é que o pai simplesmente preferia carros menores, como o Fusca, para uso
diário. Mas como ele não tinha o hábito de vender seus carros, o Impala
acabou encostado na garagem por décadas. Como, na época, o mercado brasileiro estipulava um valor
máximo para carros importados, o sr. Hélio só conseguiu uma versão básica, com
motor seis-cilindros de 3,8 litros e 140 cv, e câmbio manual três marchas na
coluna. Em 2010, seu Hélio morreu de pneumonia, aos 88 anos de idade. O carro
foi, então, retirado da garagem onde estava, pois, o teto estava para desabar e
seria feita uma reforma. Descobriu-se que o hodômetro marcava apenas pouco mais
de 34,5 mil km rodados e que o Impala estava completamente íntegro, com lataria
impecável, pintura e cromados em bom estado e todos os acabamentos no lugar. Só
o motor não funcionava mais.
Um Escort XR3 com 167 km rodados. Como acontece
com diversos clássicos nacionais, procurar um Escort XR3 para comprar é uma
faca de dois gumes: os exemplares mais acessíveis normalmente escondem defeitos
sérios, enquanto os impecáveis custam mais de R$ 30 mil. Claro, existem os
meios-termos, mas estes estão cada vez mais raros de encontrar. Quer
dizer então de um Escort XR3 fabricado em 1985 que rodou só 167 km? O carro foi
encontrado em Campinas pelo vendedor de clássicos conhecido como Reginaldo de
Campinas e, fora toda a poeira e sujeira, estava impecável. E mais:
completamente original, da pintura aos pneus — um jogo de Firestone S-660
—, do acabamento à mecânica.
O Escort estava abandonado em um galpão
imundo, e dentro dele estava uma declaração do Detran de São Paulo que o
autorizava a rodar 15 dias sem as placas, emitida em 4 de novembro de 1985 — o
que indica que o carro pode estar parado desse jeito que foi encontrado desde o
final daquele ano. Reginaldo disse que, diferentemente dos outros carros que
garimpa, este seria limpo, recuperado e ficaria em sua coleção.
As raridades da chácara. Foi no início de 2014 que Julio Camargo soube
de uma propriedade no interior de São Paulo que, supostamente, guardava uma
coleção de carros das décadas de 1970 e 1980, parados havia muitos anos em
perfeitas condições. Conhecido no meio como Julio Raridades, ele é
um caçador de raridades — um daqueles caras que sempre estão procurando
carros raros, antigos ou as duas coisas, que estejam bem conservados e ofereçam
potencial para negociações. Ou seja: imediatamente foi procurar saber mais a
respeito. Depois de alguns meses de procura, ele conseguiu
chegar a um nome, um número de telefone e um endereço. Era o que ele precisava
para, em setembro do ano passado, fazer uma visita à propriedade. A história
foi divulgada em novembro de 2015. Por questão de segurança, o endereço e o
nome do dono continuam em segredo até hoje. O que importa é que o local estava, de fato, repleto
de achados. Não é uma coleção gigantesca, e não há um galpão ou depósito:
todos os carros estão parados ao redor da casa de hóspedes da propriedade, que
também conta com uma casa principal muito maior.
São modelos relativamente comuns de se ver
nas ruas, mas raramente em um estado tão bom: VW Fusca, Brasilia, Variant
e Gol BX (todos com motor refrigerado a ar), Ford Corcel II e Del Rey e um
Chevrolet Chevette. Também estavam ali dois carros mais raros — um Renault
Gordini e um DKW Candango, versão brasileira do utilitário alemão DKW Munga
produzida sob licença no Brasil pela Vemag. Dá para ver que o dono até se
preocupou com a ação que o tempo tem sobre os carros, tomando o cuidado de
deixar alguns deles sobre cavaletes — medida que ajuda a reduzir os danos aos
pneus e ao sistema de suspensão. Agora, infelizmente, quase toda história sobre
carros parados no tempo envolve um acontecimento triste. E esta não é exceção:
desde 2008, quando a mãe do proprietário morreu, a chácara deixou de ser
frequentada pela família e os carros ficaram lá, parados, sob capas. Parte
deles acabou sendo vendida pelo próprio Julio.
A coleção leiloada de Caxias do Sul. Em boa parte das vezes, um barn find é algo
indesejado. Os carros são guardados por alguma razão e, dali a um tempo, os
donos pensam em tirá-los de seu esconderijo. Foi o que aconteceu com a
coleção do proprietário de uma fabricante de peças automotivas de
Caxias do Sul.
Segundo a história contada pelo pessoal do Autos Segredos, que descobriu o leilão, a coleção estava em nome da empresa do colecionador, que acabou falindo e em abril de 2014 teve seus ativos leiloados para quitar as dívidas remanescentes. A maioria dos carros da coleção
eram nacionais antigos como o Puma AMV, Volkswagen TL, Chevrolet Caravan
1977 e um Alfa 2300 Ti. Também havia alguns importados bem interessantes, como
um par de BMW (2002 e 2800) e um Plymouth Valiant de primeira geração. A
maioria deles precisou apenas de uma boa lavagem para voltar a brilhar.
Escort XR3 Abandonado após morte do
dono. Lembra quando dissemos que,
normalmente, barn finds estão ligados
a acontecimentos tristes? Pois este aqui foi realmente trágico. O “arqueólogo”
automotivo Reginaldo de Campinas contou a história em seu site: o Escort
XR3 comprado em dezembro de 1984 (ou seja, é um dos primeiros
exemplares fabricados no Brasil) ficou parado entre fevereiro de 1985 e outubro
de 2015 em uma garagem da capital paulista. Sim, o proprietário só rodou três
meses com o carro! Mas por quê?
Acontece que, pouco depois de comprar o XR3, o dono morreu afogado durante
suas férias no Pantanal Mato-Grossense. O carro ficou em posse do irmão, que
não permitiu que ele fosse vendido. No entanto, 30 anos depois, o irmão
também morreu. Com isso, o carro foi vendido para Reginaldo — com apenas
955 km rodados e plásticos nos bancos.
Fonte:http://mundofixa.com Fotos: Reginaldo de Campinas
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