Era o
lançamento de mais um produto que tinha tudo para ser revolucionário. Antes de
sua apresentação o mercado foi bombardeado por uma sequência de campanhas
publicitárias criativas (sim, isso existiu um dia) e, no dia de sua
apresentação oficial, milhares e milhares de interessados invadiram as lojas da
marca, o que causou grande repercussão na imprensa. Não, não era o lançamento
do iPhone 6, e sim do Ford Edsel, o maior fracasso da indústria automobilística
em todos os tempos. Isso aconteceu nos anos 1950 e quase levou a marca para a
falência. Em 1948, na euforia do pós-guerra, a indústria automobilística
norte-americana vivia seu período de maior esplendor: carros enormes. Motores gigantescos, cromados
abundantes e estilos inspirados nos temas aeroespaciais.
A Ford estava sem carros de preço
intermediário, diferente da Chevrolet e Chrysler entre outros. Os baratos Chevy
55/56/57 vendiam pelo menos um milhão de unidades por anos. Os interessados em
outras marcas tinham opções de comprar carros e, de degrau em degrau, chegar
até os modelos top da linha. Na Ford não, a marca só tinha carros nas
extremidades da lista, ou muito simples ou muito caros.
MEIO TERMO
Foi então
criada uma nova divisão, que ficaria posicionada entre os Ford (mais simples) e
os Mercury e Lincoln (mais sofisticados).
Mas por falta de planejamento, quando os Edsel foram apresentados em 1957, a
economia americana apresentou alguns sinais de recessão e os consumidores se
voltaram para carros menores e mais econômicos. A queda de vendas foi imediata,
justo no segmento em que a Ford queria ganhar mercado. Foi pega no contra-pé. Assim, a percepção da Ford para os produtos desta nova
linha foram por água abaixo. Mas não só por questões econômicas, pois tudo nele
estava errado. O revolucionário desenho inicial passou por sucessivos ajustes
até o carro ser definido, e o resultado final foi um carro onde nada se
encaixava com nada, principalmente a sua grade frontal, imediatamente associada
com o órgão genital feminino. Isso selou seu fracasso.
Assim nasceu o Edsel, para desilusão
daquelas milhares de pessoas que esperaram seu lançamento. O Edsel era um carro
grande, longo e cheio de cromados, tudo típico da época, vendido com duas e
quatro portas; duas portas conversível e duas e quatro portas wagon (para seis
e nove passageiros).
Debaixo do capô, sempre motores grandes.
ERROS E MAIS ERROS
Receita boa,
que tinha tudo para dar certo na teoria, mas o que ficou da história do veículo
foi algo inusitado. A Ford acreditava que, para promover um novo lançamento,
bastava criar uma enorme expectativa em torno do veículo, com outdoors e
“teasers” com frases de efeito: “o Edsel está chegando” e “nunca existiu um
carro como o Edsel”. A mesma bobagem
que muitas marcas fazem hoje na internet. A idéia era promover o “carro do
futuro” e criar muita expectativa. Do alto de sua arrogância, a montadora
norte-americana dispensou as pesquisas junto aos clientes para definir o visual
do automóvel e confiou no seu próprio “feeling”, o que foi considerado um dos
grandes erros do projeto, entre tantas outras falhas. Quando chegou às ruas, o
Edsel não era o esperado carro “do futuro” e tinha vários e componentes de
outros veículos da empresa na época.
O dia 4 de setembro de 1957 era o que a Ford
chamava de “E-Day”, a data em que ele chegaria às concessionárias de todo os
Estados Unidos. Vendedores com seus bloquinhos de pedidos a postos, mas o
retorno dos eventuais interessados foi péssimo, e de imediato a grade
estigmatizou o carro. No mínimo, a frente foi considerada horrorosa. No mínimo.
NOME?
O próprio nome,
estranho, também não caiu no gosto dos americanos. Era uma homenagem ao filho
do fundador da Ford, chamado de Edsel Ford… Antes
de chegar a Edsel, a Ford reuniu numa lista 8.000 sugestões de nomes fornecidos
pela sua agência de publicidade, além de solicitarem à poeta Marianne Moore
idéias para nomes de sua nova linha de automóveis. Como não houve consenso,
decidiram mesmo homenagear Edsel Ford, sem questionamentos sobre se esse nome
era condizente ou não com o carro onde seria aplicado. Ou seja,
quiseram ousar e escolheram uma denominação que não causava qualquer estímulo
no comprador e que não tinha qualquer vínculo com nada. Resultado? O herdeiro
de Henry Ford passou a ter o seu nome associado ao fracasso para todo o sempre.
ÚLTIMA CHANCE
Com um
retumbante fracasso para administrar, a Ford ainda tentou algo inédito para a
época: no dia 13 de outubro comprou uma hora inteira de programação na CBS TV,
só para promover o Edsel. Era o “The Edsel Show”, apresentado pelo astro Bing Crosby,
que reuniu convidados como o quilate de Frank Sinatra, Rosemary Clooney, Luis
Armstrong e Lindsay Crosby. O programa recebeu ainda um convidado secreto, Bob
Hope. O “The Edsel Show” entrou no ar no horário
do mais importante programa de domingo da CBS, o “Ed Sullivan Show”, aquele que
havia quebrado todos os recordes de audiência ao apresentar de costa a costa
Elvis Presley. Ao contrário do cantor, o sucesso do programa não foi transferiu
para o carro, que continuou com números de vendas ridículos para o que a Ford
esperava dele. Em 1958, foram vendidos 63.110 Edsel nos Estados
Unidos e 4.935 no Canadá. Em 1959, as vendas caíram para 44.891 unidades na
terra da matriz e 2.505 veículos no Canadá. Em 1960, último ano do Edsel no
mercado, foram produzidos apenas 2.846 carros. Isso contrasta com as pretensões
da Ford, que queria vender cerca de 200.000 unidades do modelo por ano. Mas,
vender apenas 118.287 unidades em três anos, em dois países, foi muito pouco,
ainda mais considerando o gigantesco investimento de US$ 400 milhões no
desenvolvimento do carro. Outro erro estratégico da Ford. Segundo consta, o
prejuízo da marca com o Edsel foi de aproximadamente US$ 2,25 bilhões.
DESASTRE
Tudo foi tão
desastroso no modelo, que nem mesmo o controle de qualidade da Ford funcionou
no Edsel. A situação chegou ao auge quando a maçaneta de um Edsel ficou na mão
de Frank Sinatra em uma demonstração ao vivo do carro na TV. Naturalmente os prejuízos foram enormes, tanto na área
financeira quanto de imagem. Para quem entende o mínimo de automóveis, é
impossível dissociar Ford de Edsel ainda hoje. Mas a empresa aprendeu alguma
coisa com esse fracasso, modificando processos de produção, investindo em
controle de qualidade e incorporando nos novos Ford seguintes diversos
melhoramentos que haviam sido desenvolvidos para o Edsel.
A Ford merece aplausos nesse caso, pois
conseguiu reunir tudo de ruim que é possível num automóvel só. Haja talento!
Estima-se que hoje existam uns 6 mil Edsel sobreviventes, que atraem a atenção
dos colecionadores como “o carro mais feio de todos os tempos” ou o “pior carro
da história”. Na verdade, o Edsel é o maior exemplo da Lei de Murphy aplicada
na indústria automobilística: “se algo pode dar errado, com certeza vai dar”.
Fonte:http://autoetecnica.band.uol.com.br
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