Após enfrentar na
estreia no país a fama de fragilidade e de câmbio com engates duros e
imprecisos, as coisas melhoraram para a Fiat na virada dos anos 80 para 90, com
a estreia do sedã Tempra e a exportação do Uno e da perua Elba. A partir dessa
logística, surgiu a ideia de importar o Tipo, aproveitando os mesmos
navios que iam para a Itália. Lançado na Europa em 1988, o Tipo parecia uma
versão maior do Uno, com linhas assinadas pelo próprio centro de estilo da
marca. Sua ampla área envidraçada proporcionava excelente visibilidade e o
aproveitamento de espaço era excelente, especialmente quando comparado a VW
Golf, Ford Escort e Opel Kadett. Não à toa, arrebatou o título de Carro do Ano
na Europa em 1988, superando até BMW Série 5 e Honda Civic. As primeiras
unidades desembarcaram no Brasil em 1993: a racionalização do transporte
marítimo permitiu que o Tipo chegasse custando apenas US$ 17 000, incluindo aí
a desejada direção hidráulica. Disponível com duas ou quatro portas oferecia
como opcional ar-condicionado, teto solar e acionamento elétrico de vidros e
travas. A estimativa inicial da Fiat era comercializar cerca de 1 500 unidades
mensais: o custo-benefício evidenciado pelo conforto, ergonomia e espaço
interno fez com que a demanda disparasse, mesmo com o modesto porta-malas de
246 litros. Nem a falta de fôlego do motor 1.6 com injeção monoponto conteve os
ânimos: eram apenas 82 cv para carregar 1 130kg.
Os números não mentem: testado em agosto de 1993,
levou 15 segundos no 0 a 100 km/h e não foi além de 160 km/h. Mas a excelente
aerodinâmica (Cx de 0,31) resultava em um consumo comedido: 9,41 km/l na
cidade, 14,09 km/l na estrada. Muito estável, o hatch se beneficiava das
suspensões independentes nas quatro rodas: dianteira McPherson e traseira por
braços arrastados conferiam comportamento dinâmico notável, entre os melhores
da época. O lado negativo surgia nas provas de frenagem: os discos sem
ventilação exigiam 33,1 metros para parar vindo a 80 km/h. Seu sucesso foi tamanho que não
bastou se firmar como o importado mais vendido: em janeiro de 1995, o Tipo conseguiu
a proeza de quebrar a hegemonia do VW Gol, ainda que por apenas um mês: vendeu
1 785 unidades a mais que o longevo líder, estabilizado no trono há quase 10
anos. Sem rivais diretos, a
concorrência também apelou para as importações: a Chevrolet trouxe da Bélgica o
Astra, enquanto a VW recorreu à Alemanha para trazer o Golf. A súbita elevação
do imposto de importação levou a Fiat a nacionalizar o Tipo, prestes a ser
descontinuado na Itália. O exemplar das fotos é um dos 169 819 veículos
importados e pertence a Ayrson e Adriano Krempel, pai e filho. Os primeiros carros fabricados em Betim vieram em 1996, já com injeção
multiponto: a potência saltou de 82 para 92 cv. Foi o primeiro nacional com
airbag (só para motorista), primazia conquistada apenas um dia antes do
Chevrolet Vectra.
Porém, um
revés abreviou sua carreira: em junho de 1996 vieram os primeiros incêndios. Um
recall foi convocado para substituir o tubo convergedor de ar quente do motor,
sem sucesso. Novos casos ocorreram, motivando o segundo recall, na direção
hidráulica: o fluido vazava e pingava no início do escapamento, dando origem ao
fogo. Era tarde demais: a imagem do Tipo havia sido arranhada, a ponto de
ganhar apelidos como Fiat Lux e Fiat Zippo. Apenas 12 570 unidades foram
produzidas aqui até 1997, o que só aumentou sua rejeição e desvalorização.
Recentemente, porém, a Fiat decidiu ressuscitar
o nome Tipo para batizar seu novo
sedã global em alguns mercados. Sinal de que a fama, no resto do mundo, ainda
carrega prestígio.
Fonte:http://quatrorodas.abril.com.br/
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