sexta-feira, 20 de novembro de 2015

Fiat Tipo: Bom, bonito e barato, o modelo conquistou os brasileiros na mesma velocidade que os incêndios levaram para macular sua reputação. Reportagem de Quatro-Rodas.

Após enfrentar na estreia no país a fama de fragilidade e de câmbio com engates duros e imprecisos, as coisas melhoraram para a Fiat na virada dos anos 80 para 90, com a estreia do sedã Tempra e a exportação do Uno e da perua Elba. A partir dessa logística, surgiu a ideia de importar o Tipo, aproveitando os mesmos navios que iam para a Itália. Lançado na Europa em 1988, o Tipo parecia uma versão maior do Uno, com linhas assinadas pelo próprio centro de estilo da marca. Sua ampla área envidraçada proporcionava excelente visibilidade e o aproveitamento de espaço era excelente, especialmente quando comparado a VW Golf, Ford Escort e Opel Kadett. Não à toa, arrebatou o título de Carro do Ano na Europa em 1988, superando até BMW Série 5 e Honda Civic.  As primeiras unidades desembarcaram no Brasil em 1993: a racionalização do transporte marítimo permitiu que o Tipo chegasse custando apenas US$ 17 000, incluindo aí a desejada direção hidráulica. Disponível com duas ou quatro portas oferecia como opcional ar-condicionado, teto solar e acionamento elétrico de vidros e travas. A estimativa inicial da Fiat era comercializar cerca de 1 500 unidades mensais: o custo-benefício evidenciado pelo conforto, ergonomia e espaço interno fez com que a demanda disparasse, mesmo com o modesto porta-malas de 246 litros. Nem a falta de fôlego do motor 1.6 com injeção monoponto conteve os ânimos: eram apenas 82 cv para carregar 1  130kg.
Os números não mentem: testado em agosto de 1993, levou 15 segundos no 0 a 100 km/h e não foi além de 160 km/h. Mas a excelente aerodinâmica (Cx de 0,31) resultava em um consumo comedido: 9,41 km/l na cidade, 14,09 km/l na estrada. Muito estável, o hatch se beneficiava das suspensões independentes nas quatro rodas: dianteira McPherson e traseira por braços arrastados conferiam comportamento dinâmico notável, entre os melhores da época. O lado negativo surgia nas provas de frenagem: os discos sem ventilação exigiam 33,1 metros para parar vindo a 80 km/h. Seu sucesso foi tamanho que não bastou se firmar como o importado mais vendido: em janeiro de 1995, o Tipo conseguiu a proeza de quebrar a hegemonia do VW Gol, ainda que por apenas um mês: vendeu 1 785 unidades a mais que o longevo líder, estabilizado no trono há quase 10 anos. Sem rivais diretos, a concorrência também apelou para as importações: a Chevrolet trouxe da Bélgica o Astra, enquanto a VW recorreu à Alemanha para trazer o Golf. A súbita elevação do imposto de importação levou a Fiat a nacionalizar o Tipo, prestes a ser descontinuado na Itália. O exemplar das fotos é um dos 169 819 veículos importados e pertence a Ayrson e Adriano Krempel, pai e filho.  Os primeiros carros fabricados em Betim vieram em 1996, já com injeção multiponto: a potência saltou de 82 para 92 cv. Foi o primeiro nacional com airbag (só para motorista), primazia conquistada apenas um dia antes do Chevrolet Vectra.
Porém, um revés abreviou sua carreira: em junho de 1996 vieram os primeiros incêndios. Um recall foi convocado para substituir o tubo convergedor de ar quente do motor, sem sucesso. Novos casos ocorreram, motivando o segundo recall, na direção hidráulica: o fluido vazava e pingava no início do escapamento, dando origem ao fogo. Era tarde demais: a imagem do Tipo havia sido arranhada, a ponto de ganhar apelidos como Fiat Lux e Fiat Zippo. Apenas 12 570 unidades foram produzidas aqui até 1997, o que só aumentou sua rejeição e desvalorização. Recentemente, porém, a Fiat decidiu ressuscitar o nome Tipo para batizar seu novo sedã global em alguns mercados. Sinal de que a fama, no resto do mundo, ainda carrega prestígio. 
Fonte:http://quatrorodas.abril.com.br/

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