O mapa do GP |
Às vésperas de mais uma edição da concorrida São Paulo Indy 300, podemos ter a impressão de que corridas em circuito de rua é uma coisa recente na cidade de São Paulo, mas muito antes da Fórmula Indy chegar por aqui,São Paulo teve como seu primeiro GP, em 1936, um fantástico circuito de rua pela cidade, no bairro do Jardim América. Impensável nos dias de hoje, tanto pela mudança dos traçados das ruas como pela enorme diferença entre os veículos de competição da época e as super máquinas da Indy 300, o nosso primeiro GP foi um evento que praticamente parou São Paulo durante os dias 11 de julho (véspera da corrida) e 12 de julho de 1936. Promovido pelo poderoso empresário paulistano, Sabaddo D’Angelo, dono da fábrica de cigarros Sudan, o evento foi realizado em uma data pouco tempo depois do Circuito da Gávea, no Rio de Janeiro, para aproveitar o maior número de pilotos internacionais que já estavam no país.
Arquibancada da Avenida Brasil |
A prova contou com pilotos de grande renome
nacional e internacional como o brasileiro Manuel de Teffé e a francesa Hellé
Nice. Ao todo foram 20 competidores, sendo 6 deles estrangeiros. Diferente do
circuito da Indy, que dispõe dos mais modernos regulamentos de segurança,
isolamento da pista e muitas outras normas para proteger o espectador, em 1936
a realidade era muito diferente. Haviam arquibancadas na Avenida Brasil, mas
nas outras ruas do circuito as pessoas ficavam vendo os carros na calcada com
pouco ou nenhum isolamento. O risco de atropelamento era real, já que não só os
carros podiam sair desgovernados de uma curva, e, no público, muitos insistiam
em atravessar de um lado para o outro da pista.
Manuel de Teffé (à direita) em plena corrida. |
A corrida, como era de se esperar em um grande evento, foi um enorme sucesso de público. Bem agitada e disputada, a corrida não foi completada pela maioria dos corredores, que foram parando por colisões ou problemas mecânicos durante a prova. Dos 20 competidores, apenas 6 concluíram o 1 GP da Cidade de São Paulo.
Imprudência de pessoa na platéia causou acidente. |
O ponto triste da corrida deu-se por conta de um grande acidente ocorrido não pela imperícia de algum piloto, mas pela imprudência do público. Enquanto Hellé Nice tentava conquistar a terceira posição que estava com o brasileiro Manuel de Teffé, em uma das disputas mais emocionantes da corrida, um espectador resolveu cruzar a pista, causando um grande acidente, com cinco mortos e trinta e sete feridos. O desastre só não teve proporções ainda maiores porque Manuel de Teffé conseguiu jogar o carro contra uma grande barricada de feno.
O jornal Correio Paulistano deu amplo destaque ao desastre |
Com um total de 60
voltas, a corrida por pouco não foi concluída em sua totalidade. Ela foi
paralisada exatamente por conta deste acidente, na volta de número 56. Abaixo,
os vencedores da prova*.
1º lugar – Carlo Pintacuda 2º lugar – Attilio Marinoni 3º lugar – Manuel de Teffé
4º lugar – Hellé Nice - 5º lugar – Victorio Rosa 6º lugar – Arthur Nascimento Júnior
*mantidas as grafias dos nome à época.
4º lugar – Hellé Nice - 5º lugar – Victorio Rosa 6º lugar – Arthur Nascimento Júnior
*mantidas as grafias dos nome à época.
O placar da prova, durante a corrida. |
O machismo e o preconceito contra as mulheres,
muito grande à época, foi notado após o acidente. Corredora hábil e muito
superior a muitos dos homens com quem disputava, Hellé Nice foi acusada por
muitos de ter sido a causadora do acidente com Manuel de Teffé. É possível ver
a diferença entre a cobertura dos dois grandes jornais da época O Estado de
S.Paulo, acusando a pilota de ter ficado nervosa com os palpites de seu
mecânico durante a prova, e o Correio Paulistano, que dedicou uma página
inteira da edição de 14 de julho ao acidente, inocentando a francesa. Uma
grande corrida, destaque no mundo inteiro, que acabou infelizmente manchada
pelo terrível acidente da volta 56.
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