Apesar de diesel, em movimento a perua é um silêncio só (Divulgação/BMW) |
Por muitos
anos defendi que a perua BMW 530d é o melhor carro do mundo. É rápida,
bonita, tremendamente econômica, muito confortável, confiável e genuinamente
divertida de dirigir. E agora foi lançada a nova versão, que supostamente é
melhor em todos os aspectos. Mas você conseguiria colocar o Alex James, do
Blur, no porta-malas, com uma de suas guitarras? E pôr o produtor musical
William Orbit no meio do banco traseiro? Eles conseguiriam tocar The Chain, do Fleetwood Mac,
enquanto iam de uma festa para outra? Como qualquer cara sensato que esteja
observando o que obviamente seria uma grande noite, eu providenciei um
motorista para me transportar. O problema é que, hoje, motorista é como um maço
de cigarros em uma festa: lá pelas 10 da noite todos decidem que gostariam de
pegar um. É por isso que, quando estávamos saindo do jantar, o Alex e sua
mulher perguntaram se podiam pegar uma carona. Com eles, seríamos quatro mais o
motorista, o que não seria problema na grande perua BMW. Mas aí percebi que o
sr. Orbit parecia um pouco abatido, por isso ele tinha de vir também. E, por
alguma razão que não entendi, tanto ele quanto o Alex estavam com guitarras.
“Se não tiver problema”, falou o Alex, “eu vou no porta-malas”.
Parece até que o acabamento foi fixado com solda (Divulgação/BMW) |
Tendo se
enfiado lá, ele decidiu que gostaria de tocar algo para nós. E, para piorar, o
sr. Orbit estava encaixado entre mim, que já sou alto, e minha namorada, que é
mais alta ainda. Mas, após só 10 km, eles deram um jeito de se arrumar. E assim
fomos pelas estradas de Oxfordshire, com música ao vivo como entretenimento. Foi
uma noite divertida. É claro que há outros carros grandes em que um par de
músicos poderia tocar – muitos, na verdade, se tiverem o tipo físico dos
Rolling Stones –, mas poucos também são bons em outras coisas. Deixe-me dar um
exemplo. Quando você enche o tanque de um carro normal, o computador de bordo
lhe diz que você terá uma autonomia de quanto? Bom, quando você enche o tanque
da 530d, ele lhe diz que você pode andar até 560 km antes de precisar abastecer
novamente. E isso, se você detesta postos de combustíveis da mesma forma que
eu, é razão suficiente para fechar a compra. Mas tem mais. Os apoios de cabeça
da maioria dos carros são projetados para fazer apenas isso. São apenas
ferramentas para evitar que você tenha uma fratura cervical. Mas no BMW eles
também são descansos de cabeça: grandes travesseiros macios em que você pode se
aninhar quando o Alex e o William estão lhe fazendo uma serenata. E o GPS? No
seu carro, você tem de ficar mexendo num botão para soletrar o lugar para onde
você quer ir. Você pode fazer isso no BMW – se gostar de viver no passado. Ou
pode escrevê-lo à mão no touchpad ou só dizer aonde quer ir. Três alternativas
para escolher uma única função.
Acabamento de primeira linha e boa ergonomia por dentro (BMW/Divulgação) |
É a mesma
coisa com vários dos controles. Você pode apertar um botão ou fazer um gesto.
Sério, basta você mexer a mão para cá e para lá e algo acontece. Isto faz com
que esse carro tenha as melhores tecnologias que você possa se deparar por aí. Em
outros carros, você encontra esse cobertor de engenharia elétrica como uma
cortina de fumaça para distrair o dono e mascarar uma engenharia mecânica
meia-boca – um molho picante para encobrir o fato de que você está comendo um
rato. Mas no BMW esse não é o caso. Se desligar todos os sistemas de auxílio
que o impedem de bater, você descobre que tem uma bela máquina à disposição.
Você fica ali levantando fumaça com grandes derrapagens de traseira facilmente
controladas pensando: “Humm… estou em uma perua grande de cinco lugares a
diesel. Como isso é possível?”. E é a mesma coisa na estrada. Você sabe que
está em um carro a diesel, por causa do barulho do motor na partida. Mas depois
você não consegue ouvir o motor. A BMW fez alguma coisa muito legal aqui em
termos de acústica, porque não estou exagerando: em velocidade de cruzeiro, o
motor é um silêncio só. E não é porque esteja desligado. Você descobre porque
quando crava o pé no acelerador é como se tivesse sido engolfado por uma onda
gigante de torque. O turbo está girando e os seis pistões estão causando Deus
sabe quantas explosões por minuto. Mas tudo o que pode ouvir enquanto você
dispara em direção à próxima curva são os pneus.
Grade no formato “duplo rim” é tradição da BMW (BMW/Divulgação) |
E você vai
gostar de fazer a próxima curva, porque a direção é perfeitamente balanceada,
os freios reduzem a velocidade com sensibilidade infinitamente variável e,
graças à tração integral xDrive, o carro praticamente não sai de traseira. É
tudo aderência. Mesmo na neve. Esse tem sido um calcanhar de aquiles para a
BMW. Ninguém sabe exatamente o porquê, mas quando o termômetro cai abaixo de
zero, os primeiros carros a escorregar para fora da pista são os BMW. Mas o
xDrive é a resposta a isso e, agora que está disponível para toda a linha, eu
compraria uma versão com essa opção, especialmente se morasse em área rural. No
mínimo será útil quando você tiver uma estrela do rock no porta-malas e
precisar estacionar num lugar com lama. Por fim, há a questão da qualidade. A
BMW costumava ficar devendo em relação à Mercedes, mas não acho que seja mais o
caso. Se você empurrar e puxar todo o acabamento de um Série 5, parece que está
empurrando e puxando algo fixado com solda. Tudo dá a impressão de que está ali
para ficar. Para sempre. Eu poderia continuar, mas não faz sentido, porque até
haver uma revolução no que dirigimos e quem o dirige e o que o move, isto é o
melhor a que se pode chegar. São 130 anos de desenvolvimento reunidos em um
conjunto que é tão impecável quanto a tecnologia atual permite. A Mercedes, a
Audi e a Jaguar podem lhe vender carros que sejam semelhantes. Mas eles não
fazem tudo tão bem quanto este BMW.
Fonte: quatrorodas.abril.com.br POR: Jeremy Clarkson
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