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quarta-feira, 28 de fevereiro de 2018

Renault 4L: a história do maior rival do Citroën 2CV


Você certamente conhece a reputação do Citroën 2CV. O “guarda-chuva sobre rodas” feito na França após a Segunda Guerra Mundial era barato, robusto e fácil de manter – era tudo o que os franceses precisavam para continuar andando de carro mesmo com a economia fragilizada pelo conflito. Seu desenho utilitário e simples ao extremo passou a ser considerado charmoso ao longo dos anos, e sua construção sólida e sua mecânica minimalista faziam dele quase indestrutível. Segundo consta, era possível até mesmo reaproveitar seus componentes para fazer uma motoNão foi à toa que o Citroën 2CV foi vendido por nada menos que 42 anos, de 1948 a 1990, e não mudou quase nada em todo esse tempo. Mas você achava que as outras fabricantes francesas ficaram só observando enquanto o 2CV tomava o mercado de assalto? Achou errado. Hoje nós vamos contar a história do Renault 4L, que foi criado como uma resposta ao Citroën 2CV em 1961 e seguiu em produção até 1994 – 33 anos, no total. Por esta razão é importante falar um pouco sobre o 2CV antes de começar a falar do 4L.


Nos anos 60 o Citroën 2CV já tinha diversos aperfeiçoamentos em relação ao projeto original: o motor flat-2 de 375 cm³ e 9 cv havia dado lugar a uma versão de 425 cm³ e 14 cv; o teto de tecido, que também atuava como tampa do porta-malas, deu lugar a uma peça de metal, e diversos painéis de aço corrugado da carroceria deram lugar a superfícies lisas, garantindo um aspecto mais civil e suave ao pequeno sedã de dois volumes. Como não poderia deixar de ser, o 2CV também serviu como laboratório para a Citröen, que lançou uma versão experimental chamada 4×4 Sahara que, como o nome dizia, tinha tração integral. A sacada era a solução encontrada para conseguir tração traseira: dar ao 2CV um segundo motor! O motor traseiro tinha sua própria caixa de câmbio, seu próprio sistema de partida elétrica e seu próprio afogador. Àquela altura, um carro barato, econômico e charmoso já não era necessidade – o Deux Chevaux foi se tornando, aos poucos, item de boutique e um carro de lazer: sua suspensão macia e com curso bastante generoso favorecia até mesmo expedições ao campo para trilhas leves.

Ou passeios na praia com sua garota e um violão. Deu para entender o espírito da coisa, não? Assim, ao criar o 4L, a Renault levou tudo isto em consideração. O desenvolvimento do carro começou na segunda metade dos ano 50, e já era perceptível que a relação dos franceses com os automóveis populares havia mudado. Assim, o Renault 4L foi concebido desde o início para ser versátil: seu visual era utilitário como o do Citroën 2CV, porém com linhas mais suaves e modernas que também poderiam agradar mais aos… mais suaves e modernos. Era um carro tão valente quanto o 2CV, porém maior, mais espaçoso, mais potente e mais urbano.

O carro foi lançado em duas versões em junho de 1961: Renault R3, com um quatro-cilindros de 603 cm³ e 22 cv, e Renault R4, com uma versão de 747 cm³ do mesmo motor, capaz de entregar 26,5 cv ou 32 cv dependendo do carburador utilizado. Eram os mesmos motores usados pelo antecessor do Renault 4, o Renault 4CV – que muitos conhecem como “Rabo Quente”, apelido que o modelo ganhou quando foi vendido no Brasil na década de 50 por conta do motor localizado na traseira. Ambos os motores eram maiores e mais potentes que o flat-2 do Citroën 2CV, o que já era um ponto a favor. Para um carro que pesava apenas 600 kg, era mais do que suficiente.
O motor ficava montado na longitudinal, atrás do eixo dianteiro, enquanto o câmbio manual de três marchas (desenvolvido especialmente para o Renault 4) ficava na frente. Na prática, então, o Renault 4 tinha um motor central-dianteiro. A alavanca do câmbio ficava montada no painel, ligada diretamente à transmissão através de uma vareta longitudinal que passava por sobre o motor e a embreagem. Com isto, nenhuma conexão ficava no nível do assoalho, que por conta disto era plano ao longo de toda a largura da carroceria, melhorando o espaço interno.
A construção do carro trazia a carroceria montada sobre uma plataforma separada. Embora os benefícios da construção monobloco já estivessem começando a ser reconhecidos (peso reduzido e produção mais rápida e barata), a Renault optou pelo método mais tradicional para reduzir a carga exercida no teto, permitindo chapas e colunas mais finas. A suspensão era independente por braços semi-arrastados nas quatro rodas, com um detalhe inusitado: os braços em cada eixo ficavam um atrás do outro por questão de espaço. Com isto, as rodas não eram concêntricas e o lado esquerdo tinha entre-eixos um pouco mais longo do que o lado direito – era uma diferença pequena, que não afetava o manejo do carro. O Renault R4 tinha quatro amortecedores telescópicos, sendo que os traseiros eram montados na horizontal e não invadiam o assoalho plano da parte traseira.
O rodar do carro seguia a mesma linha do Citroën 2CV: a suspensão tinha curso bastante longo e primava pela boa absorção de impactos em pisos irregulares, garantindo conforto aos ocupantes e leve capacidade off-road. Era um sistema robusto, simples e de fácil manutenção como o restante do carro. Estas características foram mantidas ao longo de toda a vida do Renault 4, que passou por mudanças incrementais com o passar dos anos. Primeiro, já em 1962 a versão R3 saiu de linha por baixa demanda. Pudera: de tão básico, tinha apenas um para-sol, não tinha lavador de para-brisas e nem mesmo revestimentos internos nas portas. O Renault R4, além de contar com estes itens, tinha seis janelas nas laterais em vez de apenas quatro, o que melhorava a visibilidade. Em 1965, a Renault eliminou o “R” do nome do carro, que passou a se chamar apenas Renault 4.

Em 1963 uma versão com motor de 845 cm³, chamada 4L, também começasse a ser oferecida. Em 1968, o Renault 4L passou a usar um câmbio manual de quatro marchas e recebeu seu primeiro facelift, com uma grade dianteira mais larga, feita de metal. Em 1974, esta grade passou a ser de plástico, e o interior recebeu um novo painel de instrumentos, mais sofisticado.

Em 1978, o Renault 4 passou a ser oferecido na versão GTL, com motor de 1,1 litro e 34,5 cv, capaz de chegar aos 122 km/h. Cada vez mais o Renault 4 era considerado um carro “de imagem”, e por conta disto foram lançadas diversas edições especiais com acabamento externo e interno diferenciados, com novas cores, texturas e tecidos. A base mecânica permaneceu sempre a mesma – a última grande mudança aconteceu em 1986: a troca do motor de 845 cm³ das versões mais baratas por um propulsor de 956 cm³, porém os mesmos 34 cv do motor 1.1. E foi assim até o fim da produção do Renault 4, em 1991.

A verdade é que a Renault já estava desenvolvendo o sucessor do Renault 4 nos anos 70: o Renault 5, que usava o mesmo conjunto mecânico, porém construção monobloco e estilo mais moderno. Não demorou para que ele também fosse um sucesso, custando apenas um pouco mais que o Renault 4 e oferecendo um pacote muito mais completo, confortável, silencioso e agradável de conduzir.

No entanto, por seu visual já icônico, por sua simplicidade rústica e por sua robustez, o Renault 4 foi mantido em linha por mais tempo do que o previsto. Bem mais: no total, mais de oito milhões de exemplares do R4 foram fabricados, sendo que o primeiro milhão veio já em 1966. 



O Renault 4 foi substituído pelo bem mais moderno Twingo de primeira geração, que começou a ser produzido em abril de 1993.

Fonte:www.flatout.com.br

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