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Ayrton Senna e a brigada de 12 carros testados em Interlagos |
Ayrton Senna da Silva tinha 24 anos quando estreou na
Fórmula 1, em 1984. Pouco antes de fazer aniversário, deu um presentão a QUATRO
RODAS: testou 12 nacionais no autódromo de Interlagos. Entre uma avaliação e
outra, conferiu o desempenho de cada automóvel, repassou suas notas nos 14
itens e, claro, falou sobre a primeira temporada na F-1, que estava prestes a
começar pela Toleman-Hart. “Não esperem vitórias. Se eu conseguir um quinto ou sexto
lugar, já poderei me considerar realizado”, afirmou. Mas Ayrton conseguiu muito mais que isso. Já em sua sexta prova na categoria, em Mônaco, ficou em segundo lugar. Na Inglaterra e em Portugal, terminou em terceiro. Seu talento foi logo reconhecido e, no ano seguinte, estava pilotando pela escuderia Lotus. A partir daí, todo mundo já sabe: numa das trajetórias mais gloriosas da F-1, sagrou-se tricampeão pela McLaren e transformou-se em mito do automobilismo mundial.
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Senna com o jornalisra Roberto Ferreira: rigor nas notas |
O convite a Ayrton seguia uma tradição de QUATRO RODAS de
ter personalidades da F-1 para testar os carros brasileiros. Jackie Stewart foi
o primeiro, em 1970. Um ano depois, Collin Chapman, dono da Lotus, e Emerson
Fittipaldi toparam o desafio. Em 1975, Emerson repetiria a dose e, em 1978, foi
a vez de Jody Scheckter, que ganharia o título do ano seguinte. ParaAyrton
Senna, dirigir 12 modelos poucos dias antes de alinhar pela primeira vez no
grid da F-1, em Jacarepaguá (RJ), foi um esquenta para a temporada que viria.
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Dos modelos VW, o Passat foi o melhor nas frenagens |
O sinal verde imaginário acendeu e Senna começou o teste com o Volkswagen Passat LS. De cara, sua primeira percepção: “O carro veio equipado com câmbio longo, o que agradou bastante. Tem um bom aproveitamento do motor e pouco barulho interno”. Gostou da performance nas freadas, apesar do esforço exagerado que o pedal de freio exigia do piloto. O acabamento levou nota 9, mas considerou o painel pobre e com poucos instrumentos.
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O Monza era luxuoso e bem-acabado |
A bordo do Chevrolet Monza SL/E, Ayrton se surpreendeu com a suavidade que não comprometia a estabilidade. “O motor, de tão silencioso, parece desligado. O painel é muito bacana, com todos os instrumentos fáceis de visualizar”. Senna não aprovou a posição do volante – muito baixo e próximo das pernas – e achou que o freio era pesado demais.
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Gol: o hatch pouco agradou o campeão |
Sempre enfático em suas opiniões, Ayrton não mediu palavras ao falar do VW Gol LS: “Este carro não me agrada em nada. O motor em baixas rotações é alegre. Mas perde todo o encanto quando a terceira é engatada. Ele se torna barulhento demais. Uma quinta marcha poderia resolver isso”. Ele relatou que o carro saía bastante de traseira nas curvas e que a suspensão era dura demais. As melhores notas, como direção, porta-malas e instrumentos, não passaram de 7. E tascou um 5 em nível de ruído e freios.
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O Del Rey era tão confortável que sua estabilidade era prejudicada |
O ponto alto do Ford Del Rey Ouro foi o painel, o mais completo de todos os automóveis nacionais e, segundo Ayrton, comparável ao do Alfa Romeo. “O Del Rey é macio e confortável, adequado ao público a que se destina”, comentou. Ele gostou da posição de dirigir e dos bancos, que seguravam bem nas curvas. Mas observou que a alavanca de câmbio tinha “muito jogo”, sem atrapalhar o desempenho do carro.
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Chevette: o câmbio mais preciso |
O melhor câmbio: “O
Chevrolet Chevette SL tem o melhor câmbio entre todos os carros avaliados”,
sentenciou o piloto brasileiro. Ao compará-lo com o Monza, do mesmo fabricante,
ele disse que o engate da quinta marcha era mais fácil e preciso no Chevette. O
problema estava no barulho excessivo do motor. Sempre exigente nos freios,
Ayrton revelou que os do compacto só começavam a responder depois de muito
esforço no pedal. “A posição de dirigir é agradável e os bancos são
confortáveis. Pena que o painel seja incompleto”, ressaltou.
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O Oggi foi o carro que mais recebeu críticas |
Ayrton começou a avaliação do Fiat Oggi CL criticando
a falta de espaço interno. “Avançar todo o banco da frente para uma pessoa
poder entrar atrás é negativo”, disse. Tirando o porta-malas, que recebeu uma
nota 8, o modelo só levou bordoadas: “O pedal de freio é muito duro e o curso
da alavanca de câmbio é longo: a segunda vai colada na perna do motorista e a
quinta na perna do passageiro. Faltam instrumentos no painel. O desempenho do
motor 1 300 é fraco e, apesar da boa estabilidade, o carro está rolando
demais”. A conclusão sobre o Fiat: “É um carro para andar devagar na cidade”.
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Escort: o que mais impressionou Ayrton |
Dos 12 modelos avaliados, o
que mais impressionou Senna foi o Ford Escort GL, com uma enxurrada de notas 9,
entre elas em freios, estilo e posição do motorista. “Os freios provaram que
são um ponto alto da Ford”, afirmou Ayrton. “Acionados em emergência, eles
travam as rodas dianteiras, diminuindo a velocidade sem assustar o motorista”. Considerou
ótimo o desempenho do motor CHT, auxiliado pelo bom escalonamento da
transmissão manual de cinco marchas.
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O Alfa Romeo tinha câmbio com engates suaves e painel completo |
Apesar do luxo e dos itens de
série que em outros carros seriam opcionais, o Alfa Romeo ti4 apresentou alguns
problemas. Um deles era o elevado barulho do motor em altas rotações, que
impedia até a conversa entre os passageiros. Os freios decepcionaram, pois só
os da roda direita funcionaram. De resto, o carro agradou. Tinha acabamento de
qualidade, ótimo sistema de direção hidráulico e bancos dianteiros anatômicos.
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Caravan: única a ganhar nota 10 |
Rigoroso nas
notas, Ayrton só deu um 10, e foi para o porta-malas da Chevrolet Caravan.
“Você pode transportar um monte de coisas e ainda tem um carro para a família.
O projeto é antigo, mas o estilo continua agradando”, afirmou. Ayrton
considerou o painel um pouco distante, por isso, sentiu certa dificuldade de
acionar os comandos. Outra ressalva foi a potência do motor, incompatível com o
tamanho do automóvel, ainda mais com o compartimento de bagagem lotado.
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Parati: elogios para os bancos dianteiros, com várias regulagens |
O desempenho da VW Parati não
satisfez Ayrton, mas ela mostrou outras qualidades, como os ótimos bancos
dianteiros, que permitiam várias regulagens. O câmbio de quatro marchas
permitia engates precisos e suaves e a suspensão garantia conforto porque não
era dura demais.
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Pela capacidade de carga maior, a Belina deveria ter motor mais potente |
A Ford Belina tinha o mesmo
motor CHT de Escort e Del Rey, o que constituía um fato negativo, na visão de
Ayrton. “É um modelo com maior capacidade de carga e, por essa razão, seu
desempenho fica comprometido. Os freios não trabalharam bem. Internamente, o
carro era muito pobre e os bancos não repetiam o padrão de outros automóveis da
Ford. A posição de dirigir não era das melhores: para alcançar os instrumentos
do painel, houve necessidade de movimentar o corpo para a frente.
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Na Panorama, Senna sentiu falta de um banco com encosto dobrável |
Na reta de chegada da
avaliação, Ayrton dirigiu a Fiat Panorama CL. “As diferenças em relação ao
Oggi estão nas dimensões, porque são iguais em motor e desempenho”, disse. Ele
gostou do câmbio de quatro marchas, mais eficiente que o de cinco do Oggi. Os
freios também foram superiores, mas o pedal era duro demais. “Acabamento e
conforto me parecem pobres, mas o estilo me agrada. Sou fã de peruas”, disse.
Do primeiro piloto de Fórmula 1 convidado, Jackie Stewart, até
Ayrton Senna, passaram-se 14 anos. Respaldada pelas impressões do campeão, a
QUATRO RODAS deu um veredicto muito animador: “Nesse período, a evolução dos
nossos carros foi notável”. A conclusão de Ayrton seguiu o mesmo caminho: “Os
carros brasileiros melhoraram muito de uns anos para cá e podem ser comparados
aos europeus”.
Março de 1984
“Paciente,
escrupuloso, atento, Ayrton Senna experimentou todos os veículos da mesma
forma. Acertava a posição dos bancos e fixava o cinto de segurança antes de
acionar os comandos. Depois de completar a avaliação, fazia questão de examinar
o porta-malas demoradamente, além de verificar todos os instrumentos. Um
comportamento profissional do qual ele não se desviou durante as 8 horas de
teste, sob o inclemente sol de fevereiro (…) Ayrton não escondeu sua
predileção por Escort e Monza”. Fonte: quatrorodas.abril.com.br