As
equipes de marketing chamam de SUP (sport-utility
pick-up), mas preferimos chamar de picapes compactas -considerando
como pequenas as derivadas de hatches como Strada e Saveiro. Renault Duster
Oroch e Fiat Toro apareceram para ocupar uma brecha deixada entre as
pequenas e as médias depois que estas tomaram uma boa dose de anabolizantes e
ficaram grandes demais para o uso cotidiano, além de subirem de preço.
"Se
é assim, por que o CARPLACE
nunca comparou as duas?". Simples. A Oroch foi lançada apenas
com câmbio manual, enquanto a Toro flex só chegou com transmissão automática.
Este problema foi solucionado na linha 2017 da picape da Renault, que recebeu a
caixa automática de quatro marchas já conhecida do Duster, além de
outras mudanças em busca de maior eficiência energética.
Num
primeiro olhar, a Oroch pode parecer só um "Duster com caçamba",
mas as diversas modificações feitas para chegar ao resultado final fazem dela,
em muitos aspectos, um carro melhor que o SUV. Em nosso primeiro contato
com a picape da Renault, há quase um ano, ela surpreendeu ao juntar a
desenvoltura do motor F4R 2.0 16V, os bons engates do câmbio manual de seis
marchas e um acerto de suspensão equilibrado. Com o sistema independente
multibraço na traseira (até então exclusividade do Duster 4x4), a Oroch
conseguiu ser uma picape boa de dirigir, aliando
estabilidade em curvas e absorção de impactos surpreendente.
Na
época, a Renault abriu mão do câmbio automático para focar no preço,
tornando-se opção interessante às pequenas com cabine dupla sem cobrar muito
mais. Atendeu às expectativas do público e ocupou a garagem de quem
procurava cinco lugares e caçamba, mas não estava satisfeito com Saveiro ou
Strada. Atualmente figura entre os 10 comerciais leves mais vendidos, um feito
elogiável no "ano das picapes".
Quando
a Oroch apareceu em sua versão final pela primeira vez, durante o Salão de
Buenos Aires de 2015, fontes ligadas à Fiat já nos avisavam que sua picape
seria maior, ficando entre Renault e as médias. E a Toro
veio realmente mais imponente. Lado a lado, elas não diferem tanto em
largura e altura, mas em comprimento (4.915 mm contra 4.693 mm) e
entre-eixos (2.990 mm contra 2.829 mm) a diferença em favor da Fiat é
considerável.
Nascida
da elogiada plataforma do Jeep Renegade, a Toro trouxe para as concessionárias
da Fiat o "algo mais" que faltava aos modelos da marca. Até
mesmo o motor 1.8 flex, que poderia ter saído do Renegade diretamente para a
picape, recebeu coletor de admissão variável para melhorar o torque em baixas
rotações e deixar a Toro mais forte, principalmente com a
caçamba carregada.
Diferentemente
da Oroch, a Toro não vem brigar com as pequenas. Sua meta é ser uma opção
mais barata às médias, ofertando inclusive versões com motor turbodiesel e
tração integral. A dupla convocada para o comparativo mostra que o fim da
gama de uma é o começo da outra: de um lado, a versão topo da Oroch,
Dynamique 2.0 automática de R$ 77.900; do outro, a Toro Freedom 1.8, versão de
entrada que custa a partir de R$ 81.700.
Vamos
começar pela "novidade". A Renault adotou uma
transmissão automática antiga para poder brigar, mais uma vez, na relação
custo/benefício. Ela cobra apenas R$ 2 mil a mais que a versão manual, algo
que será diluído no financiamento e pago em suaves prestações de conforto,
principalmente no anda-e-para urbano. Depois de tantos anos no Duster, o câmbio
A/T e o motor F4R se entendem bem. Evitando reduções desnecessárias, a
transmissão aproveita a força do 2.0 16V com variador de fase
na admissão (148 cv e 20,9 kgfm) e deixa a condução agradável na cidade,
sem trancos ou lerdeza nas saídas. Mas na pista de testes a Oroch
"sem pedal da esquerda" ficou bem atrás da versão manual:
marcou 12,2 s na aceleração de 0 a 100 km/h (1,2 s a mais), principalmente
por conta de um buraco existente na segunda e terceira marchas, que fica
evidente quando pisamos fundo.
A
Toro vem com motor 1.8 E-TorQ que entrega 139 cv e 18,9 kgfm de torque. Tem
comando único de válvulas e, para piorar o jogo, pesa 244 kg extras em
relação à rival. Para compensar, a transmissão possui seis marchas e não deixa
o giro cair muito durante as trocas. Mesmo assim, o pique da Toro
flex é limitado. Ela demora mais a embalar, tanto nas saídas quanto nas
ultrapassagens, e exige mais acelerador para manter a velocidade na estrada. Na
prova de 0 a 100 km/h, levou 14,6 segundos (2,4 s mais lenta que a Oroch).
Os
reflexos aparecem também nas médias de consumo. Sempre com etanol, a Oroch
levou vantagem na cidade, justamente por ser mais leve e ter mais força,
marcando 6,1 km/l contra 5,8 km/l da Toro - que aproveita as seis marchas para
fazer várias reduções. Já na estrada, o jogo virou: 9,4 km/l para a Fiat contra
8,7 km/l da Renault. A Toro usa a sexta marcha para baixar a rotação (2.500 rpm
a 120 km/h contra 3.000 rpm da Oroch) e fazer a diferença na média. No fim, o
ideal seria ter o motor da Renault com o câmbio da Fiat.
Oroch
e Toro são picapes de construção monobloco. Com as novas técnicas de produção,
elas alcançaram níveis elevados de rigidez estrutural, e ainda aposentaram o
desconfortável eixo rígido com feixes de mola em favor de uma suspensão
independente na traseira, que privilegia o conforto e a dinâmica sem
prejudicar (muito) a capacidade de carga. Ambas levam até 650 kg, com vantagem
para a Toro em volume e pelo fato de possuir a tampa traseira em duas
folhas de abertura lateral. Facilita - e muito - para carregar e
descarregar objetos pesados, ao contrário da Oroch, que ainda traz uma tampa
pesada e sem trava elétrica.
Junto
com o câmbio automático, a Oroch ganhou a direção eletro-hidráulica para a
linha 2017. Assim, um motor elétrico toca a bomba hidráulica, poupando o
motor 2.0 do trabalho (o que reduz o consumo). Junto com o alternador pilotado
(que aproveita as desacelerações para recarregar a bateria), o sistema livrou o
motor de peso "desnecessário" e trouxe um pouco mais de conforto,
principalmente em manobras, ao deixar o volante mais leve. Faltou
o pacote com os controles de tração e estabilidade, algo que a Toro traz
de série.
A
maior diferença surge na origem de cada uma. A Oroch é mais humilde,
nascida de uma plataforma vinda da Dacia, divisão de mercados emergentes
da Renault que acabou dominando a linha da marca no Brasil. Já a Toro é um dos
primeiros frutos do casamento da Fiat com a Chrysler/Dodge/Jeep, um grupo de
modelos mais caros e refinados para mercados exigentes, como o norte-americano. A
Oroch peca por ainda ser nova no mercado, mas já trazer o peso da idade de
projeto do Duster, principalmente na ergonomia. A posição de dirigir é ruim,
com a coluna de direção inclinada e elevada, mesmo com a regulagem de altura no
mínimo (o volante despenca quando soltamos a trava). A central multimídia e os
comandos do ar-condicionado ficam baixos demais, tirando a atenção do
motorista da via ao operá-los. Ao menos o botão de regulagem dos espelhos
externos foi para a porta do motorista, junto com os comandos dos vidros
elétricos.
O
acabamento é todo feito de plástico rígido, em algumas partes com rebarbas
aparentes, o que traz um ar franciscano para a cabine. Os bancos, mesmo
revestidos de couro, são simples e muito rasos. Outra reclamação foi
unânime aqui na redação: a perna esquerda, que fica "sem uso"
com o câmbio automático, não possui um local específico para descansar. Acaba
apoiada na porta, batendo no bloco de plástico que abriga os botões das
janelas, o que causa incômodo depois de certo tempo. O
acabamento é todo feito de plástico rígido, em algumas partes com rebarbas
aparentes, o que traz um ar franciscano para a cabine. Os bancos, mesmo
revestidos de couro, são simples e muito rasos. Outra reclamação foi
unânime aqui na redação: a perna esquerda, que fica "sem uso"
com o câmbio automático, não possui um local específico para descansar. Acaba
apoiada na porta, batendo no bloco de plástico que abriga os botões das
janelas, o que causa incômodo depois de certo tempo. E
assim a picape da Fiat vence o comparativo. A Oroch oferece mais
equipamentos e melhor desempenho, mas fica devendo no restante. Ainda é uma
opção melhor que Saveiro e Strada de cabine dupla, porém, o conjunto
superior da Toro se impõe na hora de fechar negócio, mesmo custando um
pouco mais.
Ficha
Técnica: Fiat Toro Freedom 1.8 Flex A/T
Motor: dianteiro,
transversal, quatro cilindros, 16 válvulas, 1.747 cm3, comando simples, coletor
de admissão variável, gasolina/etanol; Potência: 135/139 cv a
5.750 rpm; Torque: 18,8/19,3 kgfm a 3.750 rpm; Transmissão: automática
de seis marchas, tração dianteira; Direção: elétrica; Suspensão: independente
McPherson na dianteira e independente multilink na traseira; Freios: discos
ventilados na dianteira e tambores na traseira, com ABS e EBD; Rodas: liga-leve
aro 16″; Pneus: Pirelli Scorpion Verde 215/65 R16; Peso: 1.619
kg; Capacidades: volume da caçamba 820 litros, carga útil
650 kg, tanque 60 litros; Dimensões: comprimento 4.915
mm; largura 1.844 mm; altura 1.680 mm; entre-eixos 2.990 mm; ângulo de entrada
N/D, ângulo de saída N/D, altura livre do solo 206 mm; Preço inicial: R$
81.700; Preço carro avaliado: R$ 89.301
Ficha
técnica: Renault Duster Oroch Dynamique 2.0 A/T
Motor: dianteiro,
transversal, quatro cilindros, 16 válvulas, 1.998 cm3, duplo comando de
válvulas com variador no de admissão, gasolina/etanol; Potência: 143/148
cv a 5.750 rpm; Torque: 20,2/20,9 kgfm a 4.000 rpm; Transmissão: automática
de quatro marchas, tração dianteira; Direção: eletro-hidráulica; Suspensão: independente
McPherson na dianteira e independente multilink na traseira; Freios: discos
ventilados na dianteira e tambores na traseira, com ABS e EBD; Rodas: liga-leve
aro 16″; Pneus: Michelin LTX Force 215/65 R16; Peso: 1.375
kg; Capacidades: volume da caçamba 683 litros, carga útil 650
kg, tanque 50 litros; Dimensões: comprimento 4.693 mm;
largura 1.821 mm; altura 1.695 mm; entre-eixos 2.829 mm; ângulo de entrada 26º,
ângulo de saída 19,9º, altura livre do solo 206 mm; Preço
inicial: R$ 77.900; Preço carro avaliado: R$ 81.390
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